quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lilith a primeira mulher de Adão

Eva não foi a primeira mulher de Adão. Antes dela, houve Lilith, mas o amor deles foi conturbado. Quando deitavam na cama para fazer sexo, na posição mais natural — a mulher por baixo e o homem por cima —, Lilith se impacientava e demonstrava seu desagrado. Perguntava a Adão: “Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob seu corpo?” Adão ficava em silêncio, perplexo. Mas Lilith insistia: “Por que ser dominada por você? Eu também fui feita de pó e sou tua igual”. Ela pedia para inverter as posições sexuais para estabelecer uma harmonia que deve significar a igualdade entre os dois corpos e as duas almas. Adão respondia secamente que Lilith era submetida a ele, devia estar simbolicamente sob ele e suportar seu corpo.

Existe uma ordem que não é lícito transgredir. A mulher não aceita essa imposição e se rebela contra Adão. Rompe-se o equilíbrio.

Adão recusa-se a conceder a igualdade significativa à companheira. Lilith pronuncia irritada o nome de Deus e, acusando Adão, se afasta. Estão descendo as primeiras trevas da noite de sábado. Lilith foi embora.

Adão tem medo, sente que a escuridão o oprime. Parece-lhe que todas as coisas boas se estragam. Acorda, olha em torno e não encontra Lilith. Mais uma vez a companheira desobedeceu à sua ordem.

Dirige-se a Javé: “Procurei em meu leito, à noite, aquela que é o amor de minha alma, procurei e não a encontrei”.

Pede ajuda ao Pai e o Pai quer saber a causa do litígio, e compreende que a mulher desafiou o homem e, portanto, o divino.

Lilith, afirmou-se, é um demônio. Pelas escrituras, a serpente é um demônio; Lilith é, portanto o veículo do pecado da transgressão.

A serpente demônio, ou o próprio demoníaco que existe em Lilith impele a mulher a fazer algo que o homem não permite: Lilith pede a inversão das posições sexuais equivalentes aos papéis, enquanto Eva prova da árvore proibida, em obediência à serpente. A serpente, no mundo de Lilith, pode ser equivalente à manifestação do instinto codificado pela pergunta: “Por que devo sempre deitar-me embaixo de ti? Também eu fui feita de pó e por isso sou tua igual”. Adão, ao contrário, afasta de si a ameaça.

Lilith pede para ser considerada igual, Eva pensa que não há morte ao assumir a sabedoria interdita. Lilith desobedeceu à supremacia de Adão, Eva desobedeceu à proibição. Ambas assumem um risco mediante um ato.

Javé deu a ordem:

— O desejo da mulher é para seu marido. Volta para ele.

Lilith responde não com a obediência, mas com a recusa.

Javé insiste:

— Volta ao desejo, volta a desejar teu marido.

Mas a natureza de Lilith mudou no momento em que blasfemou contra Deus, e não existe mais obediência.

Então Javé manda em direção ao Mar Vermelho, para onde ela havia ido, uma formação de anjos. Eles a encontram nas charnecas desertas do Mar Arábico onde, segundo a tradição hebraica, as águas chamam, atraindo como ímã, todos os demônios e espíritos malvados. Lilith se transformou: não é mais a companheira de Adão. É o demoníaco manifesto, está rodeada por todas as criaturas perversas saídas das trevas. Lilith se recusa a voltar para junto de Adão.

Os anjos voltam ao Éden. Javé já havia decidido punir Lilith, exterminando seus filhos.

Lilith, acasalando com os diabos, gerava cem demônios por dia, os Lillin.

Os pequenos demônios foram mortos pela mão implacável de Javé. A esse cruento extermínio, verdadeira guerra entre o Criador e suas criaturas, se opõe uma vingança de Lilith: ela enfurece seus próprios filhos e, ajudada por outros demônios femininos, segue por todo lugar estrangulando de noite as crianças pequenas nas casas, ou surpreendendo os homens no sono, induzindo-os a mortais abraços.

Não há conclusão para a história: Lilith permanece a própria liberdade endemoninhada.

Do momento em que declara guerra ao Pai, e o Pai a sujeita, desencadeia a sua força destrutiva e desde aquele dia não há mais paz para o homem.

Os filhos de Lilith, pequenos diabos, eram reconhecidos na Bíblia (Núm. 6:26): “O Senhor te abençoe em todo ato teu e te proteja dos Lillin.”

O mito de Lilith foi encontrado nos escritos sumérios e acadianos e nos testemunhos orais dos rabinos sobre o Gênese. “É o mito de exclusão da primeira mulher de Adão, igual a ele e não pedaço de sua costela, que se reivindica igual para exercer seu prazer na relação com o homem, que quer manter a relação de igual para igual com o outro-diferente. Depois de sua demonização e exclusão segue-se a criação de Eva — garantia maior de submissão ao Pai e ao homem.”

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